Beau Voir
Galeria Vertical (Centro Cultural Solar de Botafogo) -RJ, de 21 de Setembro a 19 de Outubro de 2022
Sala Carlos Couto (Theatro Municipal de Niterói)- Niterói, de 8 de Março a 31 de Abril de 2023.
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Obras
"Em primeira individual, Karin Cagy apresenta uma série de trabalhos que falam de questões caras à sua sensibilidade e
que envolvem o universo feminino. Personagens maduras, quase sempre apresentadas em protagonismos inesperados -
o grande diferencial da investigação temática que coloca nas telas. Suas mulheres são fortes, destemidas, surpreendentes.
Fruto de sua dinâmica de atelier nos últimos 3 anos, a mostra "Beau Voir", brinca com acepções linguísticas, ao ser
traduzida livremente como algo bonito de ver, certamente um contraponto, quando nos deparamos com o status quo estético
vigente, ao mesmo tempo que é uma expressão de afirmação e convicção na língua francesa e flerta com a musa
existencialista Simone de Beauvoir, autora do livro capital do feminismo - "O Segundo Sexo" (Le Deuxième Sexe) publicado
em 1949, uma das obras mais celebradas e importantes para o movimento, analisando a condição feminina nas esferas
sexual, psicológica, social e política.
As figuras escolhidas pela artista se mostram donas de seus percursos e afirmações, contrariando estereótipos e
restrições naturalizadas pela sociedade ocidental, que mesmo cada vez mais aberta ao enfrentamento do ageísmo, ainda
mantém o culto à juventude como seu maior ativo econômico e simbólico. Em suas pinturas não há limites existenciais, apenas
mulheres plenas, que Cagy colore em matizes cupcakes, tons dóceis em geral relacionados com o ambiente feminino, que
ela sacrilegia em atitudes livres, indomáveis, despudoradas até.
Suas musas flertam com o politicamente incorreto, com performances junkies e irreverências, que sua fatura
expressionista de pinceladas livres, assumidamente difusas, endossa como personagens arquétipos, mas que podemos
reconhecer como a "vizinha de porta", numa versão humorada da "girl next door" pronta para uma aventura, um drink, um
baseado ou uma corrida de bicicleta.
Neste ambiente pictórico, onde ela exerce um traço autoral com figuras por vezes sinuosas ou aproporcionadas, a
artista nos instiga a ver graça na (dis)forma ou na pluralidade de formas que a idade nos traz. Estamos cada vez mais
longevos e cada vez mais precisamos ampliar nossa noção de naturalização dos corpos. Um corpo nu de preconceitos. Uma
outra estética. Karin Cagy, elege um olhar solidário à uma mulher no seu entorno próximo - família, amigas e pessoas do universo
profissional como designer e criadora de moda, onde atuou por 3 décadas, e onde estes aspectos são tratados com a crueza e
dramaticidade de uma cultura ao corpo inóspita e impositiva, e que, mesmo não sendo seu lugar de fala presente, se coloca
em seu horizonte de forma latente, em angústias e expectativas de seu lugar no mundo, que ela transforma em
poesia libertadora ao criar Senhorinhas livres e donas de seus destinos.
Realmente bonito de ver!"
Alexandre Murucci
Curador